Evento da Semana do Meio Ambiente Destaca os Impactos das Mudanças Climáticas na Saúde Humana

São Paulo, 07 de junho de 2024 – Em comemoração à Semana do Meio Ambiente, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) sediou uma palestra esclarecedora e impactante sobre os efeitos das mudanças climáticas na saúde humana. A apresentação foi conduzida por Ecimara, renomada consultora ambiental e sócia-diretora da Holos, que trouxe uma visão abrangente e detalhada sobre os desafios e soluções relacionados a este tema urgente.

Impactos das Mudanças Climáticas na Saúde

Durante a palestra, Ecimara destacou alguns indicadores apresentados no relatório “Lancet Countdown: Health and Climate Change in Latin America 2023” como as mudanças climáticas estão diretamente ligadas a uma série de problemas de saúde pública. Reconhecendo os profundos impactos das alterações climáticas na saúde, houve um avanço significativo que foi marcado pelo primeiro dia da Saúde na 28ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-28), que ocorreu em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, tendo como um dos temas principais o risco que as mudanças climáticas provocam à saúde da população global, revelando assim uma lacuna  importante entre os progresso atuais com as metas delineadas no Acordo de Paris. Entre os principais pontos abordados, Ecimara destaca:

  1. Doenças Transmitidas por Vetores e mortes relacionadas ao calor: Mudanças nos padrões climáticos influenciam a distribuição de mosquitos e outros vetores, aumentando a incidência de doenças como dengue. Segundo o relatório “Lancet Countdown: Health and Climate Change in Latin America 2023”, houve um aumento de 140% das mortes relacionadas com o calor na região da América Latina entre 2000-2009 e 2023-2022, demonstrando que o progresso na agenda climática está atrasado em relação ao ritmo urgente necessário. Além do aumento de mortes devido ao crescimento da temperatura, o potencial da transmissão da dengue pelo Aedes aegypti aumentou em 54% entre 1951-1960 e 2013-2022, sendo que no Brasil este aumento foi de 94,5%. 
  2. Segurança Alimentar e Nutricional: A alteração dos padrões de chuva e a intensificação de eventos climáticos extremos afetam a produção agrícola, comprometendo a segurança alimentar e aumentando o risco de desnutrição.

A segurança alimentar é afetada por fatores climáticos, como ondas de calor e secas, e não climáticos, como pobreza e COVID-19, impactando a qualidade, disponibilidade, acesso e acessibilidade dos alimentos. Evidências mostram que o aumento da temperatura tem contribuído para a insegurança alimentar global nos últimos anos. O indicador combina dados da Escala de Experiência de Insegurança Alimentar (FIES) da FAO com a frequência de ondas de calor e secas. Em 2021, 42,2% dos entrevistados na América Latina relataram comer apenas alguns tipos de alimentos, 37,2% não conseguiram comer alimentos saudáveis e nutritivos, e 33,2% comeram menos do que achavam necessário. Estima-se que 9,9 milhões de pessoas adicionais sofreram insegurança alimentar moderada ou grave devido ao aumento de ondas de calor e secas comparado à média de 1981-2010. Ondas de calor foram associadas a um aumento de 4,29% na insegurança alimentar, enquanto secas aumentaram a insegurança em 1,93%, com entrevistados de baixa renda em maior risco.

Soluções e Abordagens Sustentáveis

Os impactos dos perigos climáticos na vida das pessoas dependem da capacidade dos sistemas humanos de se prepararem e responderem prontamente. Na América Latina, as mudanças climáticas têm um impacto negativo na saúde, destacando a necessidade urgente de acelerar os esforços de adaptação. Estratégias de adaptação são essenciais para construir resiliência contra riscos climáticos, sendo crucial priorizar e investir nessas medidas com uma abordagem governamental multiescalar. A região enfrenta não só riscos climáticos significativos, mas também desigualdades sociais e sistemas de saúde sub financiados, dificultando a gestão dos desafios adicionais trazidos pelas mudanças climáticas. A equidade na saúde deve ser central em todas as medidas de adaptação climática, integrando justiça climática e ambiental no planejamento da saúde. Algumas estratégias e abordas para mitigar os impactos das mudanças climáticas na saúde:

  1. Adaptação das Infraestruturas de Saúde: Fortalecimento das infraestruturas de saúde para enfrentar desastres naturais e eventos climáticos extremos.
  2. Políticas Públicas Eficazes: Implementação de políticas públicas que promovam a sustentabilidade e a resiliência climática, incluindo o controle da poluição e a promoção de energias renováveis.
  3. Educação e Conscientização: Campanhas de conscientização pública sobre os riscos das mudanças climáticas para a saúde e a importância de ações preventivas.
  4. Pesquisa e Desenvolvimento: Investimento em pesquisas que explorem a relação entre clima e saúde e desenvolvam novas tecnologias e práticas para mitigação e adaptação.
  5. Realização dos inventários de emissões: extremamente importante a realização do inventário para quantificar e qualificar as emissões de gases de efeito estufa gerado pelo setor saúde para elaboração do Plano de adaptação e mitigação eficaz e executável.
  6. Redução na geração de resíduos e destinação mais saudáveis para os resíduos: As emissões geradas pelo setor de resíduos é de aproximadamente 4%, porém mais de 60% destas emissões são da disposição final dos resíduos em aterros sanitários. Isto posto é necessário reduzir a geração de resíduos e a disposição em aterros, incineração, por exemplo, os resíduos orgânicos podem ser destinados para compostagem e os recicláveis para a reciclagem.

A Importância da Ação Coletiva

A palestra de Ecimara no ICESP ressaltou a necessidade de uma ação coletiva e coordenada para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. “Precisamos de uma abordagem integrada que envolva governos, setor privado, sociedade civil e a comunidade científica para proteger a saúde pública e promover um futuro sustentável, pois todos nós somos responsáveis em colocar em prática as ações descritas nos planos”, afirmou Ecimara.

Sobre o ICESP

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) é uma referência em oncologia, comprometido com a excelência no atendimento, pesquisa e educação na área da saúde. Site do ICESP

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